quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

CARTA A OFELIA -------- Fernando Pessoa

Terrivel Bebé:
gosto das suas cartas, que sao meiguinhas, e tambem gosto de si que é meiguinha tambem. E é bombom, e é vespa, e é mel, que é das abelhas e nao das vespas, e tudo está certo e o Bebé deve escrever-me sempre, mesmo que eu nao escreva, que é sempre, e eu estou triste, e sou maluco e ninguem gosta de mim, e tambem porque é que havia de gostar, e isso mesmo e tudo torna ao principio,e parce-me que ainda lhe telefono hoje,e gostava de lhe dar um beijo na boca, com exactidao e gulodice e cpmer-lhe na boca os beijinhos qu etivesse la escondidos e encostar-m ao seu ombro e escorregar para a ternura dos pombinhos, e pedir-lhe desculpa e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes e ponto final ate recomeçar, e porque é que a Ofelinha gosta de um meliante e de um cevado e de um javardo e de um individuo com ventas de contador de gas e expressao geral de nao estar ali mas na pia da casa ao lado, e exactamente, e enfim, e vou acabar porque estou doido, e estive sempre, e é de nascença, que é como quem diz desde que nasci, e eu gostava que a Bebé fosse uma boneca minha, e eu fazia como uma criança, despia-a, e o papel acaba aqui mesmo, e isto parece impossivel ser escrito por um ser humano, mas é escrito por mim.